Artistas contemporâneos, entre eles o brasileiro Henrique Oliveira e arquitetos alteram cenário da cidade belga em mostra inaugurada na última sexta
Insta: TRIENNALE BRUGGE
Os vestígios arqueológicos escondidos da primeira muralha medieval da cidade de Bruges inspiraram a obra do artista brasileiro Henrique Oliveira, um dos 12 convidados a apresentar instalações efêmeras no centro histórico da cidade belga, patrimônio mundial, na terceira edição de sua Trienal, inaugurada na última sexta-feira.
Os galhos de madeira de Banisteria Caapi (Desnatureza 4), nome do trabalho de Henrique Oliveira, rastejam sobre a borda de pedra até a água. Parece que a natureza tem rédea solta por trás dos jardins murados, mas como uma repetição contemporânea, o que parece não é. Os galhos são artificiais e imitam a natureza de forma magistral.
Assim, o artista brinca sutilmente com o que vemos na cidade todos os dias e com o que está por trás dessa realidade. E como nossas vidas podem ser determinadas, ou guiadas, por coisas que estão inconscientemente presentes em nosso ambiente.
A obra do brasileiro dialoga com o título dessa edição, TraumA, que explora as possibilidades da arte contemporânea e da arquitetura no espaço público, ideia que permeou as edições anteriores. A diferença é que, desta vez, isso é feito de uma perspectiva introvertida e subctânea: o que está acontecendo por trás dessas fachadas majestosas? Como a cidade “medieval” está realmente sendo vivida? Os artistas e arquitetos que integram a mostra exploram os espaços públicos e privados de Bruges e buscam investigar aspectos ocultos da sociedade.
A proposta desta Trienal é abrir as portas dos fundos e investigar becos, interstícios, pátios e canteiros de obras, que formam um rastro de surpresa e curiosidade, o que permite vislumbrar por trás de paredes que parecem ser impenetráveis. Ela parte da narrativa das duas edições anteriores, ao mesmo tempo em que nos leva para uma direção diferente. Em 2015, a Trienal de Bruges considerou uma hipotética transformação da cidade em uma megalópole, imaginando que os milhões de turistas que visitam a cidade todos os anos, de repente, decidiriam se estabelecer ali permanentemente. Três anos depois, em 2018, a mostra examinou aspectos da “sociedade líquida” e criou espaços públicos acolhedores e de marcante caráter social e participativo nos canais ou ao longo deles.
Outra obra que faz parte desta edição é a do mexicano Héctor Zamora. Em Bruges, Zamora expõe trabalhos no jardim murado de Gezellehuir, com uma intervenção em torno de uma grande árvore solitária, um pinheiro austríaco. No decorrer de uma visita inicial ao local, seus olhos pousaram naquela árvore em particular, porque ela o lembrou de uma espécie da Selva Amazônia, a Erythrina crista-galli, comumente chamada de ceibo.
Essa árvore tem status sagrado e é cercada por trepadeiras. As plantas, no entanto, não envolvem a árvore sem engajamento: passo a passo, elas assumem a energia do hospedeiro e, enquanto a árvore morre, elas continuam a viver. Zamora concebeu o projeto de imitação desse recinto natural através de uma intervenção humana feita por andaimes. The Bruges, o pinheiro oferece a oportunidade de dar forma a esse conceito, criando um movimento ao contrário: onde a planta natural, balançando, estrangula a árvore tropical. Assim, andaimes industriais coloridos criam uma bela conexão entre o homem e a natureza. Os visitantes podem caminhar por eles e subir até o topo, em movimentos circulares. O que, à primeira vista é um objeto agressivo é também um acontecimento poético. No final, no topo da árvore, o público pode contemplar uma ampla visão dos arredores de Bruges.
Assim, TraumA apresenta um discurso multifacetado em que a ambigüidade, a imaginação e os sentidos são estimulados, e a demarcação entre o público e o espaço privado é renegociada. A rota traça um curso onde Bruges é discutida em todas as suas facetas: há espaço para experimentação e discurso em uma jornada por trás das cenas do imaginário urbano. Entre outros artistas que participam da mostra, destacamos Gijs van baerenbergj e Nadia kaabi-linke.
FOTOS: CORTESIA TRIENNALE BRUGGE 2021