No trabalho da joalheira e designer Suka Braga, o gesto e a dimensão de peças de design que transbordam sentimento
Insta: Suka Braga – ABUP
A joalheira e designer Suka Braga se prepara para participar da ABUP Decor Show ( @abup_oficial ), feira que acontece em São Paulo entre os dias 5 e 8 de fevereiro. Nela, a dimensão artística e estética das suas criações encontra no gesto do silêncio a delicadeza para expressar o repouso das formas e das cores no espaço. A escolha dos materiais está intimamente ligada ao seu cuidado com os processos de produção: da sabedoria do artífice, ela extrai a unicidade das peças e das tecnologias sustentáveis são estruturadas as redes para uma economia solidária.
Desde que se enveredou pelo design, o trabalho de Suka vem merecendo respeito e chamando a atenção. Primeiro, na joalheria, depois nos acessórios e, atualmente, nas peças e objetos para casa. “Com os objetos eu me sinto mais realizada, pela dimensão que eles me oferecem e pela possibilidade de me aprofundar mais em conceitos. É uma maneira que eu encontrei de continuar estudando”, comenta Suka, que diz também que hoje, a palavra é a bússola de sua criação. “É ela que me norteia”, diz.
Nem sempre foi assim. Demorou um tempo para que ela pudesse escutar o que a cutucava lá dentro. Acontece que, tem dias que a vida da gente faz um click. Com Suka Braga isso aconteceu em uma tarde de outono (ou seria primavera?).
Esparramada no sofá, ela assistia a uma entrevista na TV e, ao escutar uma mulher com mais de 60 anos dizer como se sentia ao conseguir, finalmente, realizar o sonho da vida dela, de entrar para a faculdade de medicina, teve o tal click.
Até então, desde que chegara a BH, vinda do interior para estudar e trabalhar, cumpria a meta à risca, sem espaço para devaneios. Ali no sofá, foi tocada pela experiência marcante de outra pessoa, ‘realizando o sonho da vida dela’. Entendeu que estava na hora de realizar o seu próprio. Olhou para um colar que ela mesmo tinha feito, pensou no tanto que sempre gostou de desenhar e decidiu procurar cursos onde pudesse se aprimorar.
Aos 29 anos, Suka passou no vestibular para estudar Desenho Industrial na FUMA, já sabendo em que área queria atuar, a de joalheria. “Quando entrei para faculdade, me sentia tão feliz que chegava em casa depois das aulas e dizia ao meu marido, ‘encontrei a minha turma!’ ” , brinca.
Antes mesmo de se formar, seu trabalho foi contemplado em vários concursos de design de jóias, aqui e lá fora. À época, final dos anos 1990, o setor recebia muito incentivo, e Minas se destacava também no exterior, pela identidade que imprimia às peças. “Sou muito grata à joalheria. Foram muitas descobertas e um aprender profundo e intensos contatos”, comenta Suka. Até 2016, ela se dedicava exclusivamente às jóias, que hoje continua a fazer, mas em escala bem menor, ‘só quando um amigo pede alguma coisa.’ ’ Entre as coleções realizadas, uma foi para a marca Meniax, em parceria com o designer e diretor criativo do TENDÊNCIAS, Leopoldo Gurgel.
O estágio seguinte foi dedicado aos acessórios. Suka se juntou a algumas artesãs que já conhecia e começou a produzir bolsas, colares e pulseiras em crochê. A produção cresceu, as vendas eram altas, mas Suka escutava mais uma vez um chamado interno para ir além. Hoje, mesmo que ela não produza mais a linha de acessórios, a procura por eles ainda existe. “É tão incrível quando você faz as coisas com a sensibilidade aberta, dando atenção para o sentimento, as coisas fluem”, diz.
E assim, a história de sucesso vem se repetindo, agora com os objetos para casa que levam sua assinatura. Da matriz antiga de uma bateia de garimpo, a designer ressignificou o objeto para dar vida às novas peças. As bateias da série Um Objeto Silencioso que integra a coleção dpot objeto, por exemplo, são produzidas em metal, por meio da técnica de repuxo, e têm acabamento em verniz fosco eletrostático. Já as peças da coleção Objetos Concretos são fabricadas em concreto.
As bandejas Solo, também da série Um objeto silencioso, são fabricadas artesanalmente, combinando madeira muiracatiara e resíduos da indústria de rochas ornamentais e preciosas, no caso, mármore de diferentes tipos.
O resultado do trabalho de Suka Braga são peças poéticas e repletas de significado. O tempo de maturação das coleções pode levar meses e até anos até a peça tomar forma. Elas nascem das referências que ela encontra no cotidiano, viram anotações em seus cadernos, ganham forma em seus desenhos, mas Suka destaca que o ‘sonho realizado’, quando as peças se concretizam, é mérito de artesãos, marceneiros e muitos outros profissionais que surgem em seu caminho. “Sem eles, eu não seria a designer que sou. Por conta deles, consigo ter meu processo sempre artesanal, com força manual e repleto de valor”, diz.
FOTOS DE ACERVO GENTILMENTE CEDIDAS PELA DESIGNER