Ouro Preto, Patrimônio Mundial, ganha novo espaço de conhecimento que oferece uma visão internacional do Barroco, tão presente na cidade
Insta: MUSEU BOULIEU – INSTITUTO CULTIURAL VALE – INSTITUTO PEDRA – ÂNGELO OSWALDO
Não importa se faz frio ou calor, se o dia é ensolarado ou chuvoso e com neblina. Caminhar pelas ruas e ladeiras de Ouro Preto, primeira cidade brasileira a receber o título de Patrimônio Mundial pela Unesco, é sempre espetacular. Há uma magia que parece pairar sobre a antiga Vila Rica que só quem já esteve ali, sabe do que se trata. A riqueza de suas igrejas barrocas é apenas a face mais visível do que restou do glorioso Ciclo do Ouro de Minas Gerais e de toda a história que Ouro Preto representa.
Há sempre algo a mais para conhecer sobre o período colonial brasileiro, há sempre algum detalhe não visto em suas famosas igrejas, que, além de espaços religiosos que, além de espaços religiosos serviram de cenário para as reuniões dos inconfidentes e para as obras de artistas consagrados como Aleijadinho e mestre Athaíde.
Um novo capítulo sobre a arte barroca, para além dessas igrejas, teve início no dia 14 de abril, com a inauguração do Museu Boulieu, que apresenta mais de mil peças do barroco internacional, com destaque para obras de origem asiática e latino-americana.
As peças foram doadas pelo casal franco-brasileiro Jacques e Maria Helena Boulieu. Ao longo de mais de 50 anos, o casal de colecionadores Jacques e Maria Helena Boulieu, que viveu boa parte de suas vidas entre o Brasil e a França, acumulou cerca de 2.500 peças, sendo a maior parte de arte sacra. Parte da coleção foi doada, em 2011, à Arquidiocese de Mariana, atual donatária-proprietária do acervo. No ano passado, o casal doou mais um lote de peças ao museu: além de esculturas e pinturas de temática religiosa, peças utilitárias, como mobiliário, utensílios domésticos de prataria inglesa e latino-americana, vasos de cerâmica, tecidos andinos, gravuras, fragmentos de entalhes, e também um pequeno conjunto de peças arqueológicas pré-colombianas. No caso dos Boulieu, a coleção é fruto, sobretudo, de um gosto do casal pela prataria e arte sacra barroca, devido à sua religiosidade.
Com esse acervo, a cidade ganha uma visão internacional do Barroco. Localizado no principal acesso ao centro da cidade mineira, ocupando as instalações do antigo Asilo São Vicente de Paulo, o Museu Boulieu conta com uma área de quase 400m² para exposição no pavimento superior.
A curadoria é assinada por Angelo Oswaldo, atual Prefeito de Ouro Preto. Ao percorrer as salas, é possível conhecer alguns dos desdobramentos do Barroco pelo trajeto histórico-poético proposto pelo curador: A fé e o império conquistam o mar; O mundo encantado das Índias; Americanos de Norte a Sul sob o sinal da cruz; O brilho dos metais e a luz da religião; A América hispânica e o esplendor do culto; Os engenhos da arte no Brasil açucareiro; A palma barroca na mão do povo; O eldorado no coração da grande floresta; Esfera da opulência e teatro da religião.
No saguão, o visitante pode conhecer um pouco da história do casal Boulieu e a origem da coleção. No piso superior, na entrada do percurso expositivo, visitante é recebido pela voz de Maria Bethânia, embalando poemas de Fernando Pessoa e Camões, e por imagens que introduzem o novo caminho para as Índias, onde com novos materiais e nova iconografia, o mundo ocidental se encontra e dialoga culturalmente com as tradições milenares locais.
Completa a programação de abertura do novo espaço, a mostra temporária Aleijadinho – fotografias de Horacio Coppola, realizada em parceria com o Instituto Moreira Salles. O conjunto de fotografias retrata as obras do celebrado escultor brasileiro, Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, a partir da viagem feita por Coppola a Minas Gerais em 1945.
FOTOS: NELSON KON, GENTILMENTE CEDIDAS PELO INSTITUTO PEDRA