Arquitetura em toda parte

Trajetória da arquiteta Gisele Borges pode ser definida por um trabalho consistente, poético, inovador e com competência em diversas áreas

Insta: GISELE BORGES ARQUITETURA

Arquitetura é uma folha em branco? Para Gisele Borges, no comecinho de sua trajetória profissional, a ideia podia até surtir algum efeito. Com os anos de experiência, hoje ela tem plena convicção de que o exercício profissional está longe dessa definição. “Antes eu achava que o cliente diria o que precisava e você, diante dele, seria como uma folha em branco. Com o tempo entendi que o terreno fala. Ele já te fala sobre quais são as melhores visadas, sobre insolação, sobre seus ruídos e silêncios, se tem ou não uma boa vizinhança. É por isso que a arquitetura está relacionada às ciências humanas, porque transita entre as ciências exatas, que é o que já está ali e a sensibilidade para escutar o cliente e procurar saber o que ele realmente quer. É isso que me interessa, saber como uma construção vai ser usada e vivenciada, seja ela residencial ou corporativa”, diz.

Em seu trabalho, esse processo é quase artesanal. Após uma atenta escuta e depois de decantar todas as informações obtidas, assimilando os desejos do cliente e o que o terreno oferece é hora da etapa seguinte, situada no plano das ideias. Para materializar essas ideias, cada profissional tem suas particularidades e, no caso de Gisele, tudo começa com papel, lapiseira, e o exercício rabiscar o que lhe vem à mente. A próxima parada desse extenso percurso é compartilhar o que já está em andamento com sua equipe. “Para mim, isso é sinal de maturidade. Antes eu achava que já tinha que chegar com tudo pronto. Agora, apresento as ideias e sinalizo para onde vai o projeto”, explica.

Com realizações nas mais diversas áreas, a arquiteta tem uma história rica em vivências e experiências que a conduziram ao momento atual de forma muito bem sedimentada. Recentemente, seu escritório foi premiado internacionalmente pelo Architizer A+ Awards, com o projeto CASAMIRADOR Savassi. Concluído em 2021, o prédio residencial, situado na zona sul de Belo Horizonte, se vale de uma construção assimétrica dotada de uma “pele” externa em chapa de alumínio que funciona como brise e soma na proposta arrojada e contemporânea em seus nove pavimentos. Seus 38 apartamentos apresentam soluções variadas, inspiradas em casas, estúdios e lofts. Mesmo tendo muitas unidades, a altura do prédio é relativamente baixa e agradável para a vizinhança.

Mesmo quando trabalha para clientes mais contidos, a arquiteta busca inovação em seus projetos e não gosta de se repetir. Isso tem lhe permitido um amplo portifólio, no qual sua marca está sempre relacionada à competência de uma equipe bem afinada, sob seu comando. Foi assim desde o começo. Quando formou em arquitetura e urbanismo pela Izabela Hendrix, em Belo Horizonte, os pais, que moravam em Uberaba, no triângulo mineiro, queriam que ela retornasse à cidade. Gisele não voltou, pois queria uma chance para se encontrar na profissão. Ela e o marido, o incorporador empreendedor e também arquiteto Leon Myssior empreenderam juntos até se estabelecerem, cada um em seu ramo de atuação. “Fui arquiteto por quase 30 anos até entender que o meu lugar não era projetando, mas inventando prédios que viessem a ser projetados por profissionais como a Gisele, arquiteta de mão cheia que entende que a emoção só transparece quando bem fundamentada e com boa técnica”, comenta Leon.

Entre os projetos mais representativos da arquiteta, está a nova sede da Localiza, maior locadora de veículos da América do Sul, no bairro Lagoinha, em Belo Horizonte. O edifício de 26 andares de escritórios, projeto do arquiteto Botti Rubim e de Gisele conta com um jardim de aproximadamente 15.000m2, com mais de 1300 árvores nativas do cerrado e dois grandes espelhos d’água, que refletem a real gentileza urbana do empreendimento. Uma construção pensada para suportar o crescimento da empresa para os próximos 20 anos, cujos números impressionam: são 60.000m2 edificados em um terreno de 26.000m2, onde 60% desta área é verde.

Também deve ser destacado o projeto C-SUL Condomínio Costa Laguna, para o qual o escritório Gisele Borges Arquitetura foi contratado para criar uma âncora que o diferenciasse dos demais da região. Projetaram a arquitetura da portaria e da sede social e de lazer, bem como gerenciaram os projetos de estrutura, elétrica, hidráulica, climatização e sinalização, compatibilizando as necessidades de cada disciplina com a arquitetura e garantindo o orçamento e a qualidade das obras. O escritório também pensou no paisagismo do condomínio, utilizando espécies do Cerrado com floração o ano todo.

Muitos projetos residenciais da arquiteta também poderiam estar em evidência aqui. Um deles, inclusive, é emblemático, já que os clientes queriam uma espécie de refúgio de final de semana, de fácil manutenção e que lhes poupassem de acompanhar as obras. O desafio maior foi o de implantar a casa num terreno em declive, sem gerar “paliteiros estruturais”, já que o casal desejava acessar o terreno para cultivo de horta e jardim. E o escritório respondeu não só pela arquitetura, como contratou e cuidou das interfaces de disciplinas complementares, compatibilizando as necessidades de cada uma. “Supervisionamos as obras e entregamos o sonho do casal em 14 meses”, lembra Gisele, com orgulho.

Com outros projetos a serem concluídos, um contrato vigente com a Localiza, o que demonstra a fidelização de um exigente e minucioso cliente, e ainda a reforma do estádio Independência em Belo Horizonte, a trajetória da arquiteta Gisele Borges tem destaque merecido. Quando perguntada sobre o que a arquitetura significa para ela, ela responde que recentemente escutou uma definição de ‘propósito’, que lhe caiu como uma luva: “Escutei esses dias a definição de propósito como sendo o que você faz de graça aquilo que você faz cobrando. Eu acho que a arquitetura para mim é isso. Ao sair do escritório no final do expediente, saio pelas ruas e observo as construções, vou ao supermercado e vejo arquitetura, vou a uma loja, viajo, leio um livro e vejo arquitetura em tudo. É algo que faço com muito prazer. Eu vivo a arquitetura”, define.

FOTOS: ACERVO DA ARQUITETA

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