A mesma história nunca é a mesma

Exposição de Luiz Zerbini no MASP mostra a paleta multicolorida e os diálogos entre abstração, geometria e figuração do artista

Insta: LUIZ ZERBINIMASP

Luiz Zerbini é um dos principais nomes da arte contemporânea latino-americana. Nascido em São Paulo, em 1959 é, entretanto, a primeira vez que seu trabalho é exposto em uma individual em um museu da cidade. Prorrogada até o próximo dia 31, para felicidade de quem ainda não pode ir, ou para quem quer voltar, a mostra que está no MASP apresenta cerca de 50 trabalhos do artista, em sua maioria inéditos.

Ela foi especialmente pensada no enquadramento de Histórias brasileiras, tema da programação do museu em 2021 – 22, e ganhou o subtítulo “A mesma história nunca é a mesma”, que aponta para a repetição das histórias ao longo dos séculos, bem como para a necessidade de se criar outras narrativas para esses episódios, fazendo emergir novas leituras, protagonistas e imagens.

Entre as pinturas, cinco de grandes dimensões, o artista revisita de maneira crítica a pintura histórica, que frequentemente idealiza ou romantiza fatos de uma nação, a serviço de uma certa ideologia. E mostra, por exemplo, a guerra de Canudos, distante do registro preto e branco da foto clássica de Flávio de Barros, com aqueles sujeitos já rendidos e na miséria. Zerbini mostra figuras com tons, vestimentas e histórias próprias, enredados numa magia botânica da caatinga brasileira, com mulungus e umbuzeiros floridos. Outras cores, protagonistas e histórias.

Sua recriação de Primeira missa traz uma nova representação para a cena/ emblema da colonização portuguesa no Brasil. A primeira missa do Brasil agora tem ao centro uma indígena –e os tons acinzentados são reservados aos portugueses, quase numa inversão dos canibais estereotipados de Théodore de Bry. Outros trabalhos de Zerbini incluem também o Massacre de Haximu, em 1993, o garimpo ilegal e os ciclos históricos de monocultura na agricultura no país.

Também estão expostas 29 monotipias em papel da série Macunaíma (2017), concebidas para uma edição do livro do mesmo nome de Mário de Andrade (1893-1945), um marco da literatura modernista brasileira. As pinturas e as monotipias são instaladas em uma expografia que desdobra uma outra, elaborada em 1970 para uma mostra no MASP por Lina Bo Bardi (1914-1992), arquiteta que concebeu este edifício. Duas instalações ocupam as vitrines do Centro de Pesquisa e do restaurante no 2º subsolo do museu, uma com raízes extraídas do jardim do ateliê do artista no Rio de Janeiro, e outra com um conjunto de objetos expostos sobre caixas de areia.

No Brasil de hoje, assistimos o país dar tristes voltas em espiral. O que faz tudo mais sinistro é saber que grande parte da nossa história nem nos foi contada com suas verdadeiras nuances. A curadoria é Adriano Pedrosa, diretor artístico, MASP, e Guilherme Giufrida, curador assistente, MASP.

FOTOS: ISABELLA MATHEUS

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