Sob o olhar do fotógrafo Jomar Bragança, também arquiteto, Brasília se revela com toda a sua relevância arquitetônica e urbanística
Insta: JOMAR BRAGANÇA
Ars non habet inimicum nisi ignorantem. [A arte não tem inimigos, a não ser o ignorante]. No livro 500 provérbios em Latim, de Sidney Vieira, foram compiladas mais de 500 frases em latim, acompanhadas de sua tradução e organizadas alfabeticamente. Frases ditas por escritores, sábios ou criação do senso comum, uma das heranças da cultura romana para a civilização moderna.
Como acreditamos que ninguém quer ser ignorante a vida toda, é importante conhecer um pouco da nossa arte e da nossa arquitetura neste momento, para que esse acervo possa ser admirado e respeitado. São tesouros nossos, de todos nós.
No campo da arquitetura, em meio aos destroços que virou uma parte de um dos nossos maiores patrimônios, (re)conhecer um pouco mais de Brasília, centro político do país, cheia de linhas retas e curvas harmônicas e com a assinatura de grandes arquitetos brasileiros já é um passo.
Escolhemos o olhar do fotógrafo Jomar Bragança que, com sua formação em arquitetura, nos traz um diálogo entre a visão que o fotógrafo tem sobre arquitetura e a do arquiteto sobre fotografia. “É um exercício constante. Acho que especificamente em Brasília, esses monumentos são muito impressionantes principalmente pela relação que têm com o espaço em volta e também com o céu de lá”, comenta.
Mais do que ser um centro nacional que reúne os três poderes, Brasília foi pensada e construída a várias mãos, para ser a capital dos brasileiros.
Em 1956, como uma alternativa encomendada pelo então presidente do país, Juscelino Kubitschek, Brasília levou apenas quatro anos para ser construída. E, logo tomou seu posto como a capital, no lugar do Rio de Janeiro.
Brasília é um dos ápices mundiais do que se chama de cidade planejada: a capital federal se expande por ruas, avenidas e prédios, a partir do Eixo Monumental. O imenso lugar reserva a praça dos Três Poderes, que concentra entre diversas construções de destaque, o Palácio do Planalto, Congresso, e o Supremo Tribunal Federal. Juntos, eles dão o corpo, a estética e a autoridade ao local.
Estrategicamente às laterais do parque central do Eixo Monumental, fica a Esplanada dos Ministérios. Quase como se fizessem alusão à importância do corpo executivo do Brasil, composto pelo presidente e seus ministros, que trabalham ao seu lado.
Por sua relevância urbanística e arquitetônica, a cidade foi alçada a Patrimônio Mundial, pela UNESCO, em 1987. Ainda, a popularmente chamada BSB, ganhou, ao mesmo tempo, o título de maior área tombada no mundo, com 112,25 Km².
O projeto grandioso da construção de Brasília, foi feito por meio de licitação, que garantiu ao escritório do arquiteto Lúcio Costa, a missão de realizá-lo. No time de Costa, estavam nada menos do que Oscar Niemeyer e Athos Bulcão, um arquiteto e um artista plástico que, juntos, deram forma e vida únicas à cidade.
Niemeyer foi responsável por dezenas de projetos da capital, o que alçou seu nome mundo afora, dando notoriedade ao jovem arquiteto. Junto com Lúcio Costa, ambos beberam na mesma fonte: a arte moderna, que fez com que ele visualizasse mentalmente cada detalhe da capital do Brasil, com muita originalidade.
Nas obras de Oscar Niemeyer, como o Palácio do Planalto, o Congresso e a Catedral Metropolitana, é possível notar semelhanças entre si e a autenticidade do arquiteto. Todas essas edificações são imponentes e abrem espaço também para a abstração.
“Acho que na medida que você entende como isso foi construído, mesmo no sentido de imagem, não só o esforço físico, as pessoas começam a valorizar mais esse patrimônio. É fundamental a importância que a gente dá à memória, não só a individual, onde preservamos o que que nos é precioso intimamente, mas à memória coletiva, tão importante para a formulação da nossa história, do que a gente é e do que a gente vai ser”, reflete Jomar Bragança.
FOTOS – JOMAR BRAGANÇA