Arquitetura dessa casa tem projeto que envolve a natureza, adaptando a construção às arvores do lugar e não o contrário
Insta: INÊS BRANDÃO ARQUITECTURA
Longe da agitação da cidade, essa casa foi pensada para um casal que ama a natureza e o silêncio. Situada no alto Alentejo, numa propriedade com cerca de 70 hectares, onde os carvalhos, as azinheiras, os sobreiros e as giestas povoam os diversos montes e criam uma paisagem idílica. Um pequeno riacho atravessa todo o terreno, dando origem a uma lagoa que serve como ponto de refresco para os animais de pastoreio.
Neste projeto, assinado pelo escritório Inês Brandão Arquitectura, o ponto de partida é a natureza. A casa está no topo de uma colina, com vista privilegiada. Sua forma em cruz derivou da adaptação da construção ao lugar: nenhuma árvore foi derrubada e sim, foram contornadas pela construção. Assim, os quatros braços da residência foram inteiramente rodeados pela paisagem envolvente que penetra no interior de cada espaço, criando a ilusão de uma construção de escala mais reduzida.
A entrada na propriedade, situada em um plano mais baixo permite ao visitante absorver o ambiente da região, não revelando de imediato a casa e a paisagem no seu todo. A interseção dos dois eixos que definem a organização espacial da casa é o ponto a partir do qual se chega aos espaços restantes. No volume contíguo à entrada encontramos o espaço de refeições e a sala, que se abrem de forma franca para a extensa vista. O escritório está na extremidade desse braço.
Já a cozinha, situada em plano mais baixo, tem uma relação próxima com a piscina que dela se vislumbra, conferindo a este espaço um carácter lúdico e de convívio.
Por considerar que a casa e a paisagem se fundem num só elemento, os arranjos exteriores foram pensados de forma coerente, escolhendo plantas adaptadas ao clima, com pouca manutenção e resistentes à seca, com o objetivo de criar ambientes específico para cada área. No espaço exterior junto ao alpendre da cozinha, por exemplo, foram plantadas várias espécies de plantas aromáticas, como o tomilho, a erva príncipe e o alecrim.
É no lado oposto ao da cozinha que fica o volume dos quartos, em terreno mais elevado, acessível através de uma escada, que se prolonga para o corredor que dá acesso aos quartos e que se encontra pontuado por um conjunto de aberturas verticais que permitem a iluminação natural do espaço, mas que mantêm a privacidade desta área.
Cada quarto tem uma relação independente com a paisagem, usufruindo de uma vista mais controlada, dada a topografia que os acolhe. A lavanda e outras espécies de pequena dimensão formam a bordadura junto às varandas de cada um
Ao longo de toda a casa foram criados alpendres que funcionam como espaços de transição entre o interior e o exterior, permitindo que a vivência das áreas habitáveis se encontre com a paisagem alentejana em lugares de permanência à sombra. Estes espaços podem ser ocultados por portadas perfuradas de aço corten, uma reinterpretação do “muxarabi” – elemento da arquitectura vernacular árabe, que controlam de forma passiva a temperatura no interior da casa, dado que permitem o encobrimento e a ventilação constante destes espaços.
FOTOS – ALEXANDER BOGORODSKIY