Muito mais do que tendência, a bioarquitetura propõe uma reconexão urgente com o que é natural, simples, fluido e humano.
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Empreendimentos desenvolvidos com a preocupação de reduzir o impacto ambiental e poupar recursos naturais são cada vez mais valorizados. Esse movimento é global, se firmou como tendência, mas que é muito mais do que isso. Por conta dele, o vocabulário dos profissionais da arquitetura e da construção ganhou uma série de novas palavras como selos verdes, greenbuilding, permacultura e também a bioarquitetura.
Bioarquitetura é a aplicação de um conceito bem elementar na concepção e na construção de edificações, com o objetivo de preservação ambiental e respeito à vida no planeta em seus diversos ecossistemas. Ela envolve as construções ecológicas, as construções sustentáveis e as bioclimáticas (adaptadas ao clima). Envolve também as que são erguidas com base na sabedoria milenar dos povos orientais e ocidentais.
Ao criar uma edificação tendo como base a bioarquitetura, o arquiteto passa a considerar todo o ciclo de vida útil e a cadeia produtiva dos materiais e, na especificação de tecnologias, técnicas construtivas e materiais, não fica restrito a aspectos técnicos e estéticos. As prioridades em um projeto desse tipo são outras, como o aproveitamento passivo dos recursos naturais (luz solar, ventilação e microclimas) e a obtenção da eficiência energética do edifício.
Com relação ao design, de modo geral, a bioarquitetura privilegia o uso de formas orgânicas e naturais. São construções que se assemelham e, em muitos casos, se misturam aos ambientes naturais onde estão inseridas. E, se há dúvida quanto a viabilidade de utilizar os princípios da bioarquitetura, é importante destacar que eles podem ser usados em projetos de diferentes tipologias e dimensões.
Esse tipo de construção privilegia matérias-primas como terra, pedra, areia, argila, fibras naturais, bambu, pau a pique, adobe (terra crua) e cimento queimado, bem como dá preferência ao uso de materiais, soluções e fornecedores instalados próximos do local da obra. A proposta é reduzir a poluição gerada nos processos de transformação da matéria-prima e a emissão de gases no transporte até a obra. Buscar o equilíbrio entre as tecnologias contemporâneas disponíveis e a arquitetura vernacular, que aproveita os materiais naturais e a cultura local também faz parte do arsenal da Bioarquitetura.
As diretrizes que orientam o projeto e a construção de edificações sob a óptica da bioarquitetura passam pela eficiência e redução de desperdícios na construção, pouca movimentação de terra, análise do ciclo de vida dos materiais, com preferência às matérias-primas renováveis, retornáveis, recicláveis e reutilizáveis. A escolha de materiais ambientalmente certificados, o aproveitamento de luz e ventilação naturais e o aproveitamento da arquitetura vernacular sempre que possível também estão entre essas diretrizes.
“Quando falamos de bioarquitetura e bioconstrução, estamos falando de construção e arquitetura para Vida. Que promovem a vida e que são vivas, com seus elementos naturais orgânicos, cíclicos, estáveis e duradouros. O que realmente estamos buscando é a nossa essência e a nossa conexão com este mundo e a natureza da qual fazemos parte”, comenta Paula Peret, arquiteta pela UFMG e mestre em arquitetura habitação de interesse social e sustentabilidade pela UFRJ. Paula vive com sua família em um sítio na zona rural da região da Serra do Cipó e, há 15 anos dedica-se à pesquisa e desenvolvimento de projetos e obras focados na construção com materiais naturais. A partir das diretrizes da agroecologia e permacultura desenvolve, junto com sua equipe, planejamentos de ocupações rurais.
“É urgente nossa necessidade de nos reconectar com o que é natural, simples, fluido e humano que transborda para a superfície, para a decoração ou para a moda. Mas, para vivenciarmos toda essa leveza e profundidade, esse resgate que a bioarquitetura proporciona, é preciso mergulhar de cabeça na transformação da nossa maneira de encarar o mundo e se sentir pertencente e construtor do lugar que queremos viver e deixar para nossos filhos e netos na Terra”, finaliza Paula.
FOTOS GENTILMENTE CEDIDAS PELO BIOARQUITETAR