Em seu ateliê, Sonia Gomes, referência internacional, cria para se expressar e para trazer o instante vivido novamente à vida
Insta: SONIA GOMES
“Eu acho o máximo, no meio desse heavy metal que é o mundo da gente, todo mundo lutando pela sobrevivência, aquela loucura, aí, tem um cara que dedica o tempo dele para fazer uma obra de arte, uma coisa amorosa, romântica. E coloca isso a público. Entrega o coração dele nas mãos das pessoas, nos olhos das pessoas”. Essa é uma das primeiras falas do artista Leonilson no filme A paixão de JL, com direção de Carlos Nader e foi impossível não pensar nela ao admirar a obra da artista mineira de Caetanópolis, Sonia Gomes.
Sonia é considerada referência internacional, com peças em coleções de museus do porte do Guggenheim, do Malba e do Masp, e participação na 56ª Bienal de Veneza, em 2015. Em 2020, ela foi convidada a integrar o elenco das galerias Pace e Blum&Poe, que a representam, ao lado da Mendes Wood DM.
A artista, que mora em São Paulo, para onde se mudou há cinco anos, sentiu necessidade de mais lugar para sua crescente produção, quando viu que sua residência, que acumulava essa função, já não era suficiente. No ateliê, espaço de 160m2 cuja reforma foi concluída no ano passado, ela empreendeu um processo que segue as mesmas diretrizes de seu trabalho, incluindo afeito, memória e organicidade.
No galpão de estrutura metálica erguido no quintal da antiga construção, Sonia pendura seus trabalhos em grades nas paredes e por meio do sistema de trilhos no teto com cordas reguláveis por roldanas. Em uma das partes internas, o velho piso de ladrilhos garantiu textura à parede – à frente dela, mesa mineira do século 19, na Sandra e Marcio Objetos de Arte, cadeiras Tajá, de Sergio Rodrigues, e armário metálico com porta de correr de chapa perfurada, móvel projetado por Joanna Mendes.
É nesse espaço que ela diz passar a maior parte de seu tempo, só retornando para casa na hora de dormir. É nesse espaço que cria, a partir da materialidade da linha, que oferece a um só tempo cor, textura e um potencial construtivo orgânico, que nasce ponto a ponto, nó a nó.
Sonia faz arte para se expressar e para que o instante vivido possa ser trazido novamente à vida. Entre o popular e o erudito, o mundo da artista mineira remete-nos a uma poderosa tradição brasileira que transforma materiais instáveis e difíceis em arte permanente e contemporânea na trama extremamente inventiva de suas colagens e construções.
FOTO DE CAPA – RUY TEIXEIRA