Retrospectiva dos trabalhos de Walter Firmo, um dos principais nomes da fotografia brasileira, dispara o coração com sequência de encantamentos
Insta: WALTER FIRMO – CCBB BH
Numa era em que todo mundo tem um celular à mão para os mais diversos registros de imagem, como uma fotografia ainda é capaz de nos surpreender, de forma arrebatadora? Às vezes, acontece. Ao visitarmos inadvertidamente a retrospectiva que está em cartaz no CCBB BH, que se chama “Walter Firmo: No verbo do silêncio a síntese do grito”, foi assim.
Muito provavelmente, Walter Firmo não é conhecido do grande público. Embora seja um dos principais nomes da fotografia brasileira, conhecido como “mestre da cor”, seu nome não costuma ser publicizado como de outros tantos seus colegas atualmente.
As duas centenas de fotografias que fazem parte dessa exposição retratam e exaltam a população e a cultura negras de diversas regiões do país, em ritos, festas populares e religiosas, além de cenas cotidianas.
Em todas elas, é notável o registro da poética do artista, associada à experimentação e à criação de imagens muitas vezes encenadas e dirigidas, com destaque para ensaios aclamados, como do maestro Pixinguinha na cadeira de balanço e a série com o artista Arthur Bispo do Rosário.
Imagens que comprovam a opção do fotógrafo pela figura humana, especialmente pela pele negra, que aparece em todos os matizes, tanto nas fotos coloridas quanto nas imagens em preto e branco. Elas antecipam em mais de meio século a representação do negro na sociedade brasileira e não necessariamente dentro de uma estética documental.
A intenção de Walter Firmo, como ele afirma, é colocar os negros “como honrados, totens, como homens que trabalham, que existem.” E a exposição é uma oportunidade para o público conhecer em profundidade a obra de um dos maiores fotógrafos brasileiros, que mantém até hoje seu compromisso com o fazer artístico, de tal maneira que nos acende uma explosão de sentimentos.
A exposição lança luz ainda à importante trajetória de Firmo como fotojornalista. “Desde cedo, ele incorporou em sua prática fotográfica a noção da síntese narrativa de imagem única, elaborada através de imagens construídas, dirigidas e, muitas vezes, até encenadas. Linguagem própria que, tendo como substrato sua consciência de origem – social, cultural e racial – desenvolve-se amalgamada à percepção da necessidade de se confrontar e se questionar os cânones e limites da fotografia documental e do fotojornalismo”, como analisa o curador Sergio Burgi.
FOTO DE CAPA – WALTER FIRMO