Um grão de inspiração

Projeto de Gustavo Penna às margens da rodovia se inspira no grão de café, que recorta um exuberante monolito horizontal

Insta: GUSTAVO PENNA ARQUITETOSCARMOCOFFEES

O capricho das plantações de café costuma oferecer um espetáculo a qualquer olhar, por mais desatento que seja. Num dado momento, as lavouras deixam o cenário semelhante a uma pintura em amarelo e vermelho. Não tem como não ficar admirado.

Com inspiração principal nesse grão – que dizem ter sido torrado para se transformar em bebida pela primeira vez na Pérsia – o arquiteto mineiro Gustavo Penna projetou a sede do armazém da CarmoCoffees, pensado para trabalhar apenas com cafés especiais e ser um misto de centro institucional e laboratório de testes e produção em escala reduzida.

A construção está localizada na cidade de Três Corações, às margens da rodovia Fernão Dias (BR 381), pólo industrial estrategicamente posicionado para a logística dos cafés.A alma do projeto de Gustavo é a valorização dos produtores e do produto local. O edifício símbolo da excelência da marca foi implantado em um terreno de 72 mil m².

Assim como as lavouras cafeeiras encantam o espectador quando as avista, a construção de Gustavo Penna foi pensada da mesma maneira: é para encantar quem a veja, mesmo que em movimento, passando de carro, já que a edificação é paralela à estrada. Um volume monolítico e horizontalizado que, por si só, chama a atenção, mas consegue algo mais, com o recorte elíptico que perpassa a fachada e a cobertura. Essa sessão esférica, formada por vidros triangulares, remete a um enorme grão de café. O detalhe é como um capricho da natureza: ele é responsável pela incidência de luz natural nos interiores da construção, aliás, a única.

Essa proposta permite ainda uma ambiência imersiva do amplo saguão: à noite, o recorte cria o efeito lanterna no horizonte. O edifício tem implantação trapezoidal. A fachada de fundo também é disposta em paralelo à rodovia. Em contraposição, o programa é distribuído transversalmente em planta, com a zona de acolhimento dos visitantes e o centro de apoio aos funcionários nas extremidades opostas e, no meio, o amplo espaço de armazenagem. Carga e descarga são lindeiras à fachada posterior, junto da qual foi reservado espaço para uma expansão futura do armazém.

No térreo, onde há salas para a prova do café, o ajuste entre a escala intimista da degustação e a grande escala do saguão é dado pelo protagonismo da semiesfera de café da fachada, somada aos reflexos da lâmina d’água sob ela. Também as tonalidades rebaixadas das paredes, piso e teto, em variantes da cor marrom, parecem emanar o aroma do café na totalidade do ambiente, diminuindo visualmente as distâncias.

No mezanino, um longo corredor irá abrigar um museu linear, onde serão contadas as histórias das pessoas, das fazendas, dos processos de plantio e do requinte da produção do café. O projeto do arquiteto, em meio à natureza inspirada de uma fazenda cafeeira, resulta em uma construção tão inspiradora quanto seus arredores.

Com informações da matéria publicada no Anuário 2021 da revista Projeto.

FOTO DE CAPALEONARDO FINOTTI

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