Instituto de Arte Contemporânea de Ouro Preto divulga selecionados para Residência Artística Digital

Programa Emergencial de Residência Artística – iai –  teve média de 20 candidatos por vaga

Insta: iaouropreto

Tradicionalmente, as residências artísticas oferecem possibilidades de imersão, vivências e exercício da poética, em seu sentido filosófico, com o objetivo de impulsionar processos criativos que dão origem a obras de diferentes linguagens, mediados por emoções e sentimentos que, por sua vez, são questões políticas, sociais e históricas.

Voltando o olhar para o mundo e para os reflexos negativos na economia e na cultura em tempos de pandemia, sobretudo no Brasil, muitos artistas se encontram em situação de vulnerabilidade, com seus trabalhos comprometidos ou paralisados pelo cancelamento de residências presenciais, fechamento de museus e galerias e mesmo de eventos, mostras e programas.

A partir desse contexto, o ia – Instituto de Arte Contemporânea de Ouro Preto – através de seu braço digital, o iai (Instituto de Arte Interativo), idealizou a primeira edição do Programa Emergencial de Residência Artística. Ao todo, foram 123 artistas, pesquisadores e arte-educadores de todas as regiões de Minas Gerais inscritos, depois de divulgado o edital. Dois seis selecionados, três moram em Ouro Preto. São eles: Bárbara Mol, Douglas Aparecido e Belize de Melo Neves. Os outros três, de outras regiões mineiras, são: Efe Godoy, Massuellen Cristina e Lucas Soares. Eles farão parte de uma residência digital, na qual terão orientação curatorial e pedagógica e vão receber bolsas de dois mil reais. O objetivo da residência é proporcionar aos selecionados uma reflexão, bem como a produção de projetos com foco nas potencialidades do ambiente digital, tendo como mote o conceito de decolonização.

Programa Emergencial de Residência Artística – iai

O programa conta com recursos da Lei Aldir Blanc, do Governo Federal, através da Secretaria de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais, e possui dois objetivos principais: traçar paralelos entre manifestações locais, próprias de artistas do município de Ouro Preto, e globais, ampliando o universo dessas práticas para o trabalho de artistas residentes no estado de Minas Gerais; e o incentivo à produção, observação, fruição e interação, no atual contexto de distanciamento social.

Nesse sentido, a residência se estrutura a partir de três questionamentos principais. O primeiro deles interroga de que modo as plataformas digitais podem colaborar com os programas de residência artística e ajudar a criar outras formas de produzir e estar no mundo. O segundo se aprofunda em como as plataformas digitais podem ser utilizadas para nos auxiliar a encontrar outras temporalidades e espacialidades nos/dos trabalhos artísticos. Por fim, a residência pretende questionar sobre como a realidade digital pode evidenciar territórios invisíveis e contribuir para uma discussão decolonial, com foco em práticas artísticas atravessadas por questões sociais e políticas.

De acordo com Bel Gurgel, idealizadora do Instituto de Arte Contemporânea de Ouro Preto e do Programa Emergencial de Residência Artística – iai, a pandemia evidenciou a necessidade de apropriação das plataformas digitais na arte para se refletir, entre outras coisas, sobre o futuro das residências trespassadas pelos meios digitais, não só como meios ou dispositivos de criação (site-specifc, web-arte ou animações), mas como mediadores dos ritos e experiências que orbitam as residências artísticas. “O que podemos perceber hoje é que os meios digitais são estratégicos no mundo da arte. Talvez, o primeiro questionamento que museus e galerias realizam ao planejar sua programação anual, ou deveriam realizar, diz respeito às ações que se dão no universo digital. O programa que idealizamos, de caráter experimental, além de dialogar com essas perguntas, cada vez mais fundamentais, quer apontar horizontes de possibilidades não só para as residências, mas para os processos de fomento, produção e fruição da arte contemporânea”, afirma Bel, ao ressaltar que a iniciativa não pretende substituir o presencial pelo digital, mas estabelecer outras experiências.

Com curadoria de Tainá Azeredo (Casa Tomada), a residência terá um caráter de imersão intensa. A despeito da mediação feita por plataformas digitais, o programa contará com uma série de encontros individuais e coletivos semanais, parte deles de forma privada e parte aberta ao público, no formato de lives, por meio do canal do ia no YouTube, visando descortinar e divulgar os processos inerentes às residências artísticas, herméticos por natureza.

Ao fim do programa, além de uma mostra final com transmissão ao vivo, fruto da residência e do trabalho desenvolvido pelos artistas selecionados, o programa vai gerar um material didático, destinado a escolas da rede pública de ensino de Ouro Preto, com coordenação de Valquíria Prates (responsável por programas públicos de educação e ações pedagógicas de instituições, museus e eventos como Bienal de São Paulo, Museu de Arte da Pampulha e Museu de Imagem e do Som). Com início no dia 22 de fevereiro, o programa encerra no dia 1 de abril.

ia – Instituto de Arte Contemporânea de Ouro Preto

Fundado em 2016 por Bel Gurgel, como instituto cultural sem fins lucrativos, o ia é centrado no compromisso social por meio da arte, com o objetivo de atuar na pesquisa, arte-educação, desenvolvimento e concepção de projetos artísticos e culturais com foco na ideia de glocalização (conceito cunhado pelos estudos culturais latino-americanos), que se refere à presença da dimensão local na produção de uma cultura global, buscando fomentar a constante conexão entre pesquisas e produções artísticas de Ouro Preto e região, em diálogo com reflexões e produções que se dão no âmbito estadual, nacional e mundial.

O embate entre tradição (representada pelo esplendor barroco da cidade patrimônio cultural da humanidade) e a contemporaneidade (com foco no caráter efêmero da arte contemporânea) constitui a essência do ia, a partir de quatro pilares principais: a troca entre diferentes atores sociais, o diálogo entre linguagens artísticas distintas e entre o passado, o presente e o futuro, a desconstrução do status quo que subjuga a arte ao mercado e à tendências regidas pelo mercado e a decolonização, como forma de se criar e produzir arte contemporânea a partir da reverência, reconhecimento e legitimação de epistemis e práticas culturais, sociais e políticas da América Latina e do Brasil, especificamente.    

Como uma instituição inovadora, edificada em um centro que celebra o passado, o ia busca agregar valores da diversidade social, da tecnologia, da sustentabilidade e da economia criativa, articulando novas linguagens e integrando conhecimentos. Desse modo, impulsiona que artistas explorem o significado e o impacto dessas experiências no seu próprio trabalho, no território e na troca com outros agentes, gerando um legado permanente e contínuo no patrimônio material e imaterial brasileiro.

Na fotomontagem de capa, as ruínas da igreja de São Paulo, em Macau, na China, e o Museu da Inconfidência, em Ouro Preto, Brasil. Ambos colonizados pelos portugueses. A imagem traduz uma das linhas de reflexão do instituto, como citou Bel Gurgel: segundo o geógrafo, David Harvey, a liberdade da cidade é muito mais do que o acesso àquilo que já existe, é o direito de mudar a cidade a partir do desejo de nossos corações. Pois, ao refazer as cidades estamos refazendo a nós mesmos.

Instagram dos selecionados:
@massuucristina
@efegodoy
@1ucassoares
@barroco_afrofuturista
@abelizea
@bcaramol

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