Projeto da arquiteta Ana Bahia mostra que diferentes referências, estilos e épocas podem conviver em perfeita harmonia.
Insta: Ana Bahia
O solo é brasileiro, a cidade, Belo Horizonte e sua moldura de montanhas que, embora sempre ameaçadas, ainda estão lá. Dependendo da localização, elas se estendem como um oceano verde até onde a vista alcança. Da janela desse apartamento, por exemplo. Da porta para dentro, entretanto, as influências atravessam mares reais e permitem que os ambientes tenham um clima bem ao estilo de Milão, a capital mundial do design, onde acontece o evento mais importante do setor, o Salão Internacional do Móvel de Milão, o Isaloni.
Se o que é ditado anualmente por Milão é assimilado por todos os profissionais que gostam do bom design e de novidade, nesse projeto, assinado por Ana Bahia, essas influências só somam ao jeito da arquiteta trabalhar, já que sabe muito bem como deixar claras as digitais de quem vai usufruir de cada ambiente no dia a dia. Coisa de quem domina o equilíbrio entre cores, texturas e volumes com naturalidade, fazendo com que até onde a exuberância se instale, o minimalismo ofereça frescor entre os vazios.
Essa dualidade começa no colorido do papel de parede Gucci do hall, com fundo em tom de rosa e estampa de cisnes em movimento e até mesmo na maçaneta, uma figa em bronze do Studio Orth, que dá boas vindas e no efeito da luz pontual.
O teto e a porta pretos e o piso em mármore branco que vão avançar pela sala, entretanto, são só um sinal, mas nada antecipam, já que fazem um jogo sutil com a expectativa quando a porta se abre para a sala. O preto do teto, dos painéis ebanizados e das outras paredes com boasseries, o branco do piso, e a conjugação entre um e outro no tapete de listras diagonais, assinado pela arquiteta e executado pela Marie Camille, ganham novas nuances e cores, que vão sendo percebidas aos poucos, com a escolha primorosa de cada peça. Antes, o primeiro impacto fica por conta do enorme pendente em bolas, criação conjunta da profissional com a A de Arte, a melhor tradução para o efeito surpresa pretendido pela proprietária.
O mobiliário é muito específico, com sofá em formas orgânicas, em veludo verde, poltronas Luís XV, caramelo, e destaque para a leveza da Slow Chair, de Ronan e Erwan Bouroullec com cobertura translúcida rosé, em contraste com almofadas coloridas. Ao centro, o pufe Saturday, de Jader Almeida, usado como apoio dá dinâmica e flexibilidade ao espaço. O aparador com folha de ouro é outro elemento que reforça o diálogo bem equalizado entre o clássico e o moderno. Os objetos de design e as obras de arte conversam harmoniosamente nesse projeto e, sem ver o resultado neste ambiente, talvez fosse difícil imaginar que teriam tanta sintonia juntos. Na varanda, mais uma boa surpresa, com a presença das poltronas Esfera, de Ricardo Fasanello, de 1968.
No jantar, a mesa, cadeiras e sofá preto são objetos que vieram da casa antiga. E o interessante foi exatamente esse desafio de ter em mãos muitas referências e, ao mesmo tempo criar um texto fluido e consistente entre todas elas. O resultado é um apartamento que reflete a personalidade da proprietária e mostra que, sim, exuberância e minimalismo podem conviver sem o menor conflito.
Fotos: Leva Novo