Nova exposição de José Alberto Nemer será inaugurada hoje, na Grande Galeria Alberto da Veiga Guignard, no Palácio das Artes
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“Não exagero quando digo que a aquarela me ensina a viver. Me ensina a aceitar o imponderável. A aquarela obedece ao controle da criação até certo ponto. A partir daí ela se torna indomável. O pigmento com água numa superfície grande e branca do papel tem um comportamento imprevisível. O desafio está justamente em incorporar o aleatório, transformar a surpresa em linguagem”, comenta o artista José Alberto Nemer.
Diluídos na água, os pigmentos correm pela folha, adivinhando suas minúsculas fissuras e revelando o acidentado da topografia do papel. Produzidas sobre papel francês, as aquarelas da exposição Nemer, Aquarelas Recentes revelam quadrados, retângulos, grelhas, hachuras, círculos, trapézios, elipses, cruzes e arcos, que se entrelaçam em diferentes formatos e configurações.
Após ocupar o Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo, e a Fundação Iberê, em Porto Alegre, a exposição será aberta hoje, na Grande Galeria Alberto da Veiga Guignard, no Palácio das Artes, em Belo Horizonte. Com curadoria de Agnaldo Farias, a mostra itinerante reúne trabalhos inéditos – 30 obras em dimensões médias e grandes, e uma série de 23 conjuntos, intitulada Geometria Residual, que reúne aquarelas pequenas e fotografias. Grande parte do trabalho foi criado durante os últimos dois anos, no período de isolamento social.
Arte e psicanálise – Nas telas de Nemer, o preto chama a atenção, uma cor pouco usada na técnica e terminantemente proibida na época em que estudou na Escola de Belas Artes: “Durante o curso, senti uma atração muito grande pela aquarela como técnica. Cada vez que eu começava a pintar, os professores vinham e diziam: ‘a aquarela tem que ser mais transparente, e você está pesando muito. Isso aí está mais para guache do que para aquarela’. Outras vezes colocava um preto, e eles voltavam e falavam: ‘atenção, nunca se usa o preto na aquarela’. Foi aí que guardei a aquarela e me dediquei ao desenho. Os anos passaram e, em um processo terapêutico, resolvi fazer algumas reflexões desenhadas e com aquarela. E, sintomaticamente, comecei pelo preto e nunca mais parei”, conta.
Foi por meio da psicanálise que a aquarela entrou na vida do artista. “Perguntei à analista se podia fazer um relatório usando aquarelas, e a técnica se adequou à minha introspecção e silêncio, ao meu temperamento. Domou a vontade de controle sobre tudo”, conta. A partir daí veio a primeira série, intitulada “Ilusões Cotidianas”, exposta, nos anos 1980, em São Paulo e na Bienal de Cuba.
Nemer – José Alberto Nemer é artista plástico e doutor em Artes Plásticas pela Université de Paris VIII. Lecionou em universidades brasileiras e estrangeiras, como a UFMG (1974 a 1998) e a Université de Paris III-Sorbonne (1974 a 1979). Pertencente a geração dos chamados desenhistas mineiros, que se afirmou no cenário da arte brasileira a partir da década de 1970, Nemer participa de salões e bienais no Brasil e no exterior. Sua obra obteve, entre outros, o Prêmio Museu de Arte Contemporânea da USP (1969), Prêmios Museu de Arte de Belo Horizonte (1970 e 1982), Prêmios Museu de Arte Contemporânea do Paraná na Mostra do Desenho Brasileiro, (1974 e 1982), Grande Prêmio de Viagem à Europa no Salão Global (1973), Prêmio Museu de Arte Moderna de São Paulo no Panorama da Arte Brasileira (1980), entre outros.
Fotos dos trabalhos: Rafael Motta
Fotos da montagem: Paulo Lacerda
Foto do Artista: Miguel Aun