Casa não é só para habitar, é um lugar para se reconhecer pertencente e isso Lufe Gomes mostra com satisfação
Insta: Life By Lufe – Lúcia Lou
Um fotógrafo viajante, que adora decoração. Não é sobre onde a pessoa vive, ou o que ela dependurou na parede. O objetivo de Lufe Gomes é mostrar que gente de verdade mora em casa de verdade. Ao mesmo tempo, Lufe quer descobrir que verdade é essa, o porquê de cada objeto escolhido, as cores, as invenções feitas para cada ambiente. Ele comenta que todas essas histórias o fazem aprender mais e sempre.
Assim, ele vai revelando pessoas e suas casas: há histórias e mais histórias, camadas e mais camadas, como a da mulher que tem um sofá com design do renomado Sérgio Rodrigues na sala, não porque desembolsou uma boa quantia para obtê-lo, mas porque o encontrou jogado numa caçamba. Ele compõe o ambiente, como outras peças garimpadas, com história própria.
Lufe não é um fotógrafo que fotografa casas, é uma pessoa que quer encontrar outras pessoas e entender como a gente pode viver a vida de uma forma mais leve. Em cada foto que faz, em cada vídeo, ele passa a exata sensação de um cara que vai se encantando com o que vê pela frente. A certa hora, em um de seus vídeos no Life by Lufe, seu canal no Youtube, ele pergunta à entrevistada: “Com o que a gente decora a casa?”. A resposta vem sob medida para esse olhar e sentimento singulares do Lufe: “Com o seu coração, com o que te faz feliz”. Em outra casa, outra resposta aponta o mesmo caminho: “Não existe o bom gosto, existe o humor de cada um”, diz outro. “Esqueça essa coisa de tendência, moda. Faça do seu jeito! Faça você e vai ficar lindo!”, complementa outra pessoa, em uma casa que, quando a gente vê, sabe que é a cara da dona. E é linda!
“Tudo isso é muito inspirador. Me inspira e espero que você se inspire também, porque sabe lá o que a gente pode criar sendo a gente mesmo”, Lufe diz em seu canal. “É o momento mais interessante, porque você está criando uma casa para sua alma”, resume outro entrevistado por Lufe. Essa, talvez, seja a grande história que ele busca mostrar com esse garimpo tão sensível.
História
Engenheiro civil formado pela Faculdade Federal de Santa Catarina, Lufe Gomes nunca exerceu a profissão. Enquanto procurava encontrar o que ainda não encontrara, foi para Londres em 2004 e por lá ficou até 2008. Ser fotógrafo foi algo que aconteceu, era uma maneira dele mostrar como enxergava o mundo. E, embora tenha trabalhado como assistente de um fotógrafo italiano de moda, o mundo fashion nunca o encantou. “Não é o mundo que gosto. Trata-se de um mundo que não é”, define.
Ao retornar ao Brasil, entendia que só morando em São Paulo poderia segurar a profissão que começara a desenvolver na Inglaterra. Por coincidência, nesse momento, conheceu arquitetos e fotógrafos de decoração. “Não era uma coisa que eu programei, mas aconteceu”, lembra. Começou a fotografar para revistas como Casa Vogue, Casa & Jardim e Casa Cláudia, mostrando o trabalho de arquitetos renomados, em ambientes e projetos típicos dos que são estampados na capa das revistas do setor.
Entretanto, Lufe sentia que faltava alguma coisa. Faltava mostrar uma casa que simbolizasse uma forma de ver o mundo, que não estivesse preocupada com a visita, mas com o morador. “Queria muito fotografar essas casas, mas não tinha espaço para isso. Ainda não tinha essa coisa de fotografar a casa com as pessoas naquela época”, lembra.
Foi então que criou o Life by Lufe. Primeiro, só para ele mesmo. O projeto pessoal se expandiu, quando ele o mostrou para a então diretora de redação da Casa e Jardim (editora Globo) Simone Quintas, que o chamou para fazer uma coluna fixa na revista. Durante cinco anos, publicava, a cada edição, de quatro a oito páginas, mostrando um novo jeito de enfocar o morar. “Uma pessoa, sendo interessante, pressupõe-se que sua casa também é”, ensina.
O Life by Lufe acabou se tornando um projeto maior na revista até que, em 2006, o fotógrafo o levou para o Youtube. “Queria que a pessoa estivesse junto comigo, que mostrasse a emoção da visita. Fico deslumbrado com as histórias, porque é como se eu conhecesse essas pessoas através das casas delas”, diz. O canal Life by Lufe do Youtube, hoje, conta com mais de meio milhão de visualizações a cada nova publicação e isso acarretou novas histórias na vida de Lufe. Além de quatro livros publicados, e acostumado a viajar e a fotografar pelo mundo, há sempre uma novidade por vir.
Pelo que tem experimentado, Lufe imagina que, se colocasse todas essas pessoas numa mesma sala, ia virar todo mundo amigo, por mais diferenças culturais que possam existir entre elas. “Não há tempo para rascunho, é viver a verdade dentro de cada casa, um lugar para explorar sentimentos, de se reconhecer, de passar isso para quem você ama e essas pessoas sabem que isso vale a pena. Casa não é só um lugar para você habitar, é um lugar para você se reconhecer pertencente”, ensina.
A casa da designer de jóias Lúcia Loureiro
“Foi muito interessante a entrevista com a Lúcia, porque vi de cara como ela gosta de garimpar, de misturar. Você vê muita coisa na casa dela, mas não vê acúmulo. A tranquilidade dela em mostrar a casa me fez sentir como se ela estivesse mostrando ela mesma”, comenta Lufe.
A “casa” é, na verdade, um apartamento no centro de Belo Horizonte. Uma escolha que veio ao acaso, já que a primeira ideia era morar em um condomínio no entorno da cidade. E Lúcia conta que chegou a encontrá-la. O negócio só não se concretizou porque esse apartamento surgiu no caminho e se transformou em amor à primeira vista. “Me encantei com a varanda enorme, cheia de plantas”, comenta Lúcia.
Não só a varanda, mas o fato de ser um apartamento antigo, com pé direito alto, envidraçado e cheio de luz foram pontos decisivos na escolha. Mesmo morando no endereço há 15 anos, ela diz que, ao abrir a porta e pisar dentro do espaço que é a sua cara, sente a mesma sensação de prazer do primeiro dia. Cada ambiente foi montado aos poucos e, por isso, como o fotógrafo Lufe Gomes diz, parece que cada um deles conta um pouco a história de Lúcia.
Nada está ali por acaso. A mesa de ping-pong na sala, por exemplo, não foi pensada para ser uma peça diferente e inusitada. Foi a pedido do filho, Victor, que disse que iria morar lá se tivesse uma mesa de ping-pong. “Como tinha espaço suficiente, ela foi incorporada ao ambiente”, lembra Lúcia. Incorporada e utilizada, já que foi usada para jogar mesmo e, assim, divertir a família e também para que Lúcia e sua assistente no trabalho de joalheria pudessem inventar roupas, cortando os tecidos em um mesão apropriadíssimo para tal.
Ao ser perguntada se tem algum canto da casa que mais gosta, a resposta é singela: “Gosto da casa toda”. Como é nítido que estamos falando de uma casa com alma, com a alma da dona, não poderia faltar uma situação que, provavelmente, acompanha essas pessoas que conseguem se traduzir no espaço em que vivem: Lúcia gosta muito de ficar em casa. Faz lembrar a letra da canção Vida, de Milton Nascimento: “O amor bateu na porta/ E eu de dentro respondi/ Minha casa, casa é aberta/ Pode entrar, estou aqui.
FOTOS: Lufe Gomes
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