Se ele fosse um craque do futebol, seria difícil escolher em qual posição Gustavo Greco atuaria. Considerado um dos maiores nomes da atualidade do design brasileiro, ele defende, mata no peito, cabeceia e está acostumado a fazer inúmeros gols de placa, sem jamais perder o senso de equipe.
Insta: Gustavo Greco – Greco Design
Recentemente, em uma reunião em família, quando estavam separando as mesas destinadas aos adultos e às crianças, um dos sobrinhos comentou que não sabia onde colocar o Gustavo. “Achei bonito isso”, comenta Gustavo Greco, um dos maiores nomes da atualidade do design brasileiro. Ao lembrar da cena, ele emendou uma reflexão: “A criatividade passa muito por isso, de não ser algo que tenha a rigidez do adulto. Ela precisa desse espaço para invenções, para o que não é real”. Mesmo assim, não se iluda, Gustavo não brinca em serviço.
Não dá para começar a contar um pouco da história do Gustavo dizendo que ele gostava de desenhar quando criança. “Toda criança desenha”, dispara. E completa, divagando, sem perder o poder de síntese: “Sempre fui muito criativo e também acho que toda criança é. Imaginação é do ser humano. Eu gosto da ideia que fala que criatividade é aliar a sua imaginação ao seu repertório. Imaginação é algo que nascemos com, então, é o tamanho do seu repertório que vai fazer você ser mais criativo ou não”.
Mas, sim, ele sempre gostou de desenhar, sempre foi muito inventivo, era louco por fantoches quando criança e o primeiro de todos foi um sapo que ainda está na adorável prateleira da sua ampla sala na Greco Design, situada em uma casa dos anos 1950, no bairro Carmo, zona sul de Belo Horizonte. Na empresa criada em 2005, incluindo Gustavo, são 20 profissionais, a maioria trabalhando junta há muito tempo. “A equipe é muito antiga e muito unida, com tudo de bom de tudo de ruim que isso acarreta, e eu divido todos os créditos de tudo que conseguimos até aqui com essas pessoas. Aqui, trabalhamos juntos”, diz.
Não são poucos os créditos. Principalmente a partir de 2012, a Greco vem colecionando os mais expressivos prêmios internacionais e nacionais. Foi a partir deste ano também que Gustavo começou a ser convidado para ser júri de importantes festivais de design pelo mundo. Aliado a tanta exposição e disposição, ele começou a participar mais ativamente da ABEDESIGN, maior associação de design do Brasil. Primeiro como associado e, depois, como presidente nacional. Aliás, o único até hoje na história da entidade que é de fora do eixo Rio/São Paulo. “Eu tenho isso: eu faço carreira nas coisas. Não faço nada brincando. Até gostaria, mas não consigo. Acabo me aprofundando em tudo o que me proponho”, comenta. Não foi diferente com o Yôga, por exemplo, que começou a praticar e se envolveu tanto que resolveu fazer o curso de formação.
E não é de hoje que Gustavo é assim. O menino que se formou no ensino Médio no Colégio Loyola, um dos mais tradicionais da cidade, resolveu cursar, ao mesmo tempo, Direito e Publicidade na faculdade. “Acho que eram os que estavam na moda na época” brinca. Em um determinado momento, achou que ia mesmo seguir como advogado. Apaixonado pelo Direito Penal, pensava em ser criminalista. Formou, fez o exame da OAB, passou e paga a rigorosamente a anuidade da Ordem até hoje. Nessa mesma época, começou a fazer “freelas” com a turma de publicidade e, desde então, só trabalhou com design, nunca advogou.
E o que faz de Gustavo Greco uma pessoa tão especial? A resposta poderia ser extensa em qualidades e na habilidade de transitar em áreas distintas como comandar a Greco, presidir a ABEDESIGN ou estar à frente do curso de pós-graduação em design no Uni BH e ser professor na pós, também em design, na PUC, funções que o destacam também no mundo acadêmico. Mas Gustavo é, acima de tudo um excelente agregador de ideias e talentos. “Sou um bom escolhedor de pessoas para o meu time”.
Agregar pessoas, conhecer gente pelo mundo e criar vínculos verdadeiros é algo que ele faz com maestria. A atividade como jurado de prêmios internacionais, para os quais ele recebe convites frequentes, também destaca seu poder de síntese, de objetividade, de tomar decisões assertivas. No início de 2019, Gustavo recebeu o convite que considera o mais honroso da carreira, quando o chamaram para ser o curador da Bienal Brasileira de Design de uma outra associação, a ADG Brasil. “Em tese, eu não seria a pessoa mais esperada para esse convite e esse trabalho foi muito simbólico para mim. Eu tinha muitos convites lá fora, mas quando você recebe um dentro de casa, é um endosso muito significativo desses 20 anos de carreira”, comenta.
No ano passado, mesmo com o advento da pandemia, Gustavo continuou pisando fundo no acelerador na área institucional, apesar de todas as incertezas que vieram à tona e que, na verdade, ainda estão aí. Havia muita dúvida quanto a lançar ou não o prêmio Brasil Design Awards da ABEDESIGN em 2020, quando todo o mundo foi surpreendido pelas restrições sociais para tentar conter o Corona Vírus. “Ano passado eu bati muito na tecla de que o prêmio tinha que acontecer, dada a importância que ele tem para a associação, mas sabíamos também que poderia ser um fiasco. Lançamos o Brasil Design Awards no dia cinco de abril, com o discurso de que sempre é tempo de celebrar o bom design, de que o design é uma disciplina capaz de resolver problemas políticos sociais e econômicos. Isso, no meio da pandemia”, rememora.
Valeu a garra e a vontade. A entidade bateu recorde, com 1500 trabalhos inscritos de todos os estados brasileiros, à exceção do Acre e Roraima. Temida a princípio por ter que ser online, a cerimônia de premiação teve nada menos que sete mil pessoas assistindo a Live. “Foi sen-sa-cio-nal! De arrepiar!” (eu me emociono só de escutar, na memória, ele dizendo essas palavras).
Com um repertório tão abrangente, é impossível imaginar que a rotina de Gustavo Greco seja leve. Quando perguntado sobre isso, ele dá pistas de como descomplicar essa equação: “Uma coisa que sei fazer é organizar bem o meu tempo para fazer bem feito. Sou muito ligado a isso e cobro do meu time”, explica e emenda com a frase que costuma repetir sempre: “Quer fazer? Então faz bem feito. Ou, então, não faz, ninguém tem que nada[TEF6] ”. E, sim, ele chega à Greco sempre pela manhã e sai de lá à noite. Todos os dias. No período do almoço, hora em que dá uma escapulida, é para fazer atividade física. Vai nadar e volta.
E como foi que ele encarou as medidas de restrição social? Afinal, toda a equipe da Greco foi trabalhar em casa a partir do dia 19 de março do ano passado e só retornou no final de agosto. “Foi caótico. O whatsapp tocava sem parar e tinha reunião online o tempo todo. Eu não gosto. Acho que o trabalho da Greco está muito ligado à maneira pela qual o nosso time lida com questões de design, que tem um termo que define bem, que é polinização criativa”, diz, já avisando que não é o autor da expressão. Ele explica que há muita troca em todas as áreas da empresa e a convivência é muito alegre. “Tem muita briga, porque somos muito íntimos, mas a nossa energia aqui é de muito riso, muita palhaçada. É até muito diferente do que as pessoas imaginam, quando pensam que, aqui, é um ambiente sofisticado. Aqui dentro, a gente é barraqueiro”, brinca.
A sensação que ele tem é que todos sentiram muita falta dessa descontração, do contato presencial no trabalho à distância. Tanto que, quando comunicou o dia a partir do qual retomaria o trabalho in loco, foi unânime o retorno da equipe. “Nossa essência é muito esta casa. Eu falo que ela é um integrante do time. Estávamos sentindo falta dela e ela, sentindo falta da gente”. E é realmente perceptível a energia que a casa onde a Greco funciona emana. Além de uma arquitetura de interiores fluida, da presença do bom design brasileiro, das vandas – as orquídeas aéreas que fazem parte do jardim, tão a cara da casa – da elegância despojada, há um algo mais.
Sobre o momento atual, ainda em plena pandemia no Brasil, ele reflete: “Tem dias que está todo mundo bem, tem dias que está todo mundo eufórico, mas produzindo pouco e rola crise de ansiedade. Eu não romantizo nada da pandemia, mas acho que há escolhas. Escolher conviver somente com as pessoas que são essenciais para você é uma delas”. Pode ser, mas Gustavo Greco também confessa que não vê a hora de subir em um palco para dar uma palestra e trocar energia com o público. O que aliás, ele sabe fazer muito bem e o motivo é simples: com ele, cabeça e coração andam em plena sintonia.