Sustentabilidade e emoção

Projetada pela MACh Arquitetos, capela se transforma em espaço simbólico que conecta as pessoas com a paisagem e o cosmos

Insta: MACH ARQUITETOSFELIPE FONTES

Uma capela, espaço de oração em uma propriedade rural próxima à Tiradentes (MG), com uma marcante e sutil relação entre arquitetura e paisagem, projeto assinado por Fernando Maculan e Cássio Lopes (MACh Arquitetos), com colaboração do arquiteto João Lacerda e paisagismo de Felipe Fontes.

Água, concreto aparente, quartzito e madeira constituem a edificação e o mobiliário. Materiais e tecnologias de construção locais estão principalmente nos muros de blocos de quartzito feitos a várias mãos. Por isso as sutis variações nos padrões de organização das pedras e nos espaçamentos deixados entre elas. Como se cada operário se tornasse um artesão e deixasse gravada sua digital através desse trabalho artesanal.

O uso de materiais e o emprego de mão de obra locais, incluindo a formação de novos artesãos com a transmissão de conhecimento sobre as técnicas tradicionais deste fazer ampliam a perspectiva de sustentabilidade, bem como o manejo cuidadoso do terreno, a preservação de todas as árvores existentes e a relação de simbiose da arquitetura com a paisagem que a acolhe: escolhas de projeto que apontam para o cuidado e a valorização do ambiente natural. Há muito mais para falar desse projeto. O texto completo está no site do Tendências.

Por exemplo, o percurso que prepara o visitante para um momento de recolhimento. Dada a posição estratégica, foi escolhida para a implantação uma colina de onde se avistam o trecho rochoso e mais alto da serra, ao norte, bem como o vale e a cidade de Tiradentes, a sudoeste.

A solução para o caminho de acesso foi dada de tal modo que estivesse sempre em uma única cota de nível, na medida em que descreve percurso sinuoso a desviar das árvores existentes. Assim, o corte no terreno promove uma experiência de um contínuo distanciamento da paisagem, à medida em que o céu e a copa das árvores ganham protagonismo no percurso entremuros.

Ao chegar na capela, o visitante tem atrás de si o eixo visual que direciona a visão ao trecho mais imponente da serra, e à sua frente (ainda que não sejam alinhados) o eixo visual orientado para o vale, com a cidade de Tiradentes e a igreja Matriz ao fundo.

Estes eixos visuais foram pontos de partida fundamentais para a definição das duas paredes arqueadas e, sobretudo, dos intervalos entre elas. Embora estes eixos estejam claramente definidos, a experiência de fruição da paisagem a partir do interior da capela se dá em todas as direções, graças a separação entre a cobertura e as paredes de pedra.

LUZ

De forma associada à visão da paisagem ao redor, as aberturas pontuais e perimetrais permitem a entrada de luz solar (assim como o reflexo da lua) no interior da capela, acentuando a percepção dos fluxos e movimentos da natureza. Ao mesmo tempo, a materialidade bruta e rugosa das pedras de quartzito e do concreto (cujas formas foram feitas com réguas finas de pinus) ganham relevo e textura sob a luz.

CONFORTO

As soluções construtivas adotadas garantem ótima inércia térmica ao espaço: cobertura de concreto armado impermeabilizada com espelho d’água e paredes espessas de pedra bruta. Ao mesmo tempo, o espaço é plenamente ventilado pela abertura perimetral, independente da direção das correntes de ar (muito puro) da região.

As mesmas características de solidez da construção, bem como as texturas das superfícies de pedra, contribuem para o conforto acústico e a reflexão sonora, ainda que, neste local, prevaleça o silêncio e os sons da fauna local.

Quanto à flexibilidade de uso do espaço, embora pensada como lugar de oração e introspecção, a capela pode dar lugar a encontros e formas diversas de uso, dada a mobilidade do mobiliário, que pode ser acomodado em um grande círculo, por exemplo.

INOVAÇÃO

O projeto recorre a princípios construtivos bastante usuais na cultura arquitetônica brasileira, cabendo mencionar a esbeltez do pilar central e da casca que compõe a taça, resultantes de um projeto de cálculo estrutural bastante sofisticado.

DESIGN

Por se tratar de um espaço simbólico, a arquitetura procura estabelecer uma conexão das pessoas com a natureza, a paisagem e o cosmos. As soluções de desenho são, portanto, pensadas a favor de uma experiência de imersão (dentro de uma forma circular que acolhe o visitante) bem como de expansão (através dos eixos visuais escolhidos e do anel de abertura em todo o contorno do espaço).

RELEVÂNCIA SOCIAL E URBANÍSTICA

Na implantação, foi considerada como fundamental a acessibilidade universal, que se dá através de rampas suaves na conexão com as demais estruturas que compõem a propriedade. Este princípio torna-se mais evidente quando o percurso de acesso corta o terreno, agora sem qualquer desnível, até chegar ao interior da capela. A relação do corpo com o terreno varia com o deslocamento, como em um mergulho, alternando percepções de escala e relações espaciais que levam as pessoas a perceber todos os elementos da paisagem.

INTEGRAÇÃO COM O ENTORNO

A arquitetura se afirma na paisagem, porém de forma sutil e integrada. Quando vista a partir de pontos mais altos do terreno, prevalece a lâmina d’água. À medida que o volume é desvelado, percebe-se que está parcialmente enterrado, o que ajusta a escala e a proporção da obra. A capela é indissociável do percurso que lhe dá acesso. Este caminho está intimamente ligado às árvores existentes e ao céu, que passam a fazer parte também da arquitetura. Em última instância, a capela se expande espacialmente, trazendo para si a paisagem e a ela se integrando.

FOTOS – LEONARDO FINOTTI

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