Teatro Oficina

Assim como Zé Celso, ele continua vivo, com arquitetura que cria uma linha tênue entre o Espaço e o Homem

Insta: TEATRO OFICINA USYNA UZONA

Na semana passada, durante o velório de José Celso Martinez Correa, o Zé Celso, uma multidão se dirigiu para o Teatro Oficina para algo nem sempre comum nessas ocasiões: celebrar a vida. Como disse José Miguel Wisnik sobre o amigo: “A pessoa mais livre e transparente que existiu, existe e reexistirá. Seu não ao ser vil é um tremendo sim. Não há morte que o morra”.

Ali, no edifício do Teatro Oficina, onde Zé Celso liderou a companhia homônima, a vida sempre foi celebrada. Projeto de Lina Bo Bardi e Edson Elito. O espaço foi, é e será sempre revolucionário por suas apresentações e manifestações artísticas.

Localizado na Rua Jaceguai, no bairro da Bela Vista, em São Paulo, foi fundado em 1958 por José Celso Martinez Correa, agindo como um teatro manifesto.

Entre as diferentes décadas, o teatro revolucionou seus espetáculos cênicos de modo que a arquitetura colaborou para o acontecimento e permitiu que a dramaticidade do que era apresentado ali tivesse contato mais próximo ao público.  Na década de 1990 ele passou por novo processo de reforma, também comandada por Lina Bo Bardi e por Edson Elito.

Nesse novo projeto, a ideia central aproximava a nova arquitetura ao contexto territorial, de modo que a rua parece invadir o espaço cênico, promovendo um teatro democrático pela hibridez de sua estrutura programática.

O teatro desenvolve-se por meio de uma faixa de terra, conformando a passarela central com cerca de 1,50 metros de largura sobre pranchas de madeira e com extensão de 50 metros de comprimento entre o acesso frontal e fundos, aproximando a ideia de Rua, marcando o eixo do espetáculo e desfragmentando os limites entre o palco e a plateia.

No eixo, que tem sua cota diminuindo pelo percurso, à medida que se chega próximo ao centro, os arquitetos concebem um elemento surpresa: uma cachoeira, composta por sistema que deságua no espelho d’água construído e re-circulando.

O público é posicionado em galerias laterais instaladas sobre esbeltas estruturas desmontáveis com perfis tubulares de aço, propiciando uma plateia com até 350 lugares distribuídos em quatro diferentes níveis. Nessa configuração, o público parece se aproximar dos limites do espetáculo, passando a fazer parte cênica, já que não há barreiras entre as diferentes áreas como em um teatro convencional.

Os elementos naturais e a tropicalidade brasileira foram incorporados ao projeto de maneira harmoniosa, ajudando a conceber de maneira poética e técnica o edifício, de forma que o ar, a água, a vegetação invadem o espaço e os resquícios da história do local são pontuados pela presença das antigas materialidades nas paredes do edifício. Uma linha tênue entre o Espaço e o Homem, de maneira harmoniosa e flexível, sob o verdadeiro significado do Teatro.

FOTOS – NELSON KON

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