Situada sobre as escarpas marinhas de Trancoso, casa com projeto do Studio MK 27 tem materiais locais e acabamentos engenhosos
Insta: STUDIO MK 27
O sul da Bahia sempre foi aquele paraíso que, em algum momento, para quase todo mundo que já foi lá, era o lugar dos sonhos para se morar. Trancoso era um desses refúgios. Um dos vilarejos mais antigos do Brasil, por lá não tinha eletricidade, estrada ou qualquer infraestrutura até 1970. Nessa época foi descoberta pela galera bicho grilo que se apaixonou pelo que viu. E, detalhe, os moradores, entre pescadores e fazendeiros, também gostaram desses visitantes, que foram muito bem recebidos.
Trancoso passou a ser endereço e escolha de férias de descolados por um bom tempo até que grupos com maior poder aquisitivo fez com que tudo se transformasse em badalação, com aquele charme irresistível de uma paisagem única e agora bem cara.
Nesse momento começaram a surgir casas apoteóticas que deram um novo contorno ao município, algumas delas utilizando materiais e peças de mobiliário locais, em diálogo com estruturas arrojadas e acabamentos engenhosos. É o caso desta, projeto do Studio MK 27 onde os volumes fechados se abrem para terraços e corredores ao ar livre e as cores fortes são filtradas por uma paleta neutra.
Nesse projeto, a audácia da estrutura metálica que permite o vazio de 45 metros de comprimento é equilibrada pela organicidade tátil dos materiais que a envolvem. A fachada desta estrutura externa é envolvida por ripas de eucalipto cinzento – evocando um material tradicional do nordeste brasileiro feito dos galhos retorcidos da árvore biriba – que parecem crescer sobre a fachada como raízes petrificadas. O telhado, por sua vez, é feito de madeira reciclada e teve suas telhas trabalhadas artesanalmente uma a uma.
Sob o telhado, uma varanda ao ar livre permeia o vão, conectando os jardins em ambos os lados e circundando uma caixa inferior branca. Como uma casa dentro de uma casa, este volume abriga três quartos, uma pequena sala de TV, um banheiro e uma sala de estar envolta em painéis de Viroc perfurados (um composto denso de madeira e cimento). Independente da estrutura principal, esta casa interna pode se abrir completamente enquanto os painéis Viroc funcionam como telas dobráveis.
Esta estrutura desamarrada e a paleta de materiais pálidos favorece a interação com a luz solar e as cores ao redor em uma abordagem cinematográfica. As vistas externas se abrem dentro dos espaços interiores através de texturas sutis que refratam e refletem a luminosidade, criando um jogo de luz e sombra em cada superfície, sobretudo através das ripas de biriba e das paredes perfuradas de Viroc.
Tudo impressiona: dos detalhes ao conjunto da edificação, de 843m de área. Suas proporções horizontais são delineadas pela extrusão de uma seção elementar de casa de campo, que gera uma estrutura de sessenta metros de comprimento. Enraizada por volumes fechados em suas extremidades, que contêm a suíte máster e a cozinha, a casa se abre para as cores que a rodeiam através do imenso vão de tela larga com vista para o infinito azul.
FOTOS – FERNANDO GUERRA