Uma história contada em azul

Projeto premiado da arquiteta Jô Vasconcellos, Museu da Cachaça permite que uma nova paisagem prolongue a tradição de um lugar

Insta: Jô VasconcellosMuseu da Cachaça de Salinas

Salinas, cidade de clima quente do norte de Minas, é considerada uma das maiores fabricantes de cachaça artesanal do Brasil. Não por acaso, é nela que se situa o Museu da Cachaça, projeto da arquiteta Jô Vasconcellos, inaugurado em 2012, detentor de inúmeros prêmios de arquitetura. Hoje, o azul escolhido pela profissional já não é mais o mesmo. Na transição da administração pública, o local já esteve fechado e já foram propostos outros usos. Mas a edificação permanece, atualmente em funcionamento. Seu projeto é um elogio à cidade e à arquitetura, por isso, a importância de divulgar os detalhes dessa construção, da proposta museológica e de todo o carinho e competência que estiveram presentes desde seu alicerce.

Conformado como uma longa fila de caixas azuis de diferentes dimensões, o Museu da Cachaça tem layout alongado que responde à forma do local, uma faixa de terra entre duas estradas. Longas fachadas de ambos os lados apresentam superfícies fechadas para a vizinhança circundante. Já na fachada leste, seções incorporam uma rede de blocos de concreto que interrompe a alvenaria homogênea, permitindo que a luz natural e as brisas permeiem as áreas de circulação no interior.

Com o propósito de minimizar a difusão do calor, as paredes são espessas e as lajes duplas, propiciando um colchão de ar, por onde também passam as demandas técnicas necessárias ao pleno funcionamento do museu. A zona multifuncional é articulada por uma circulação contínua e sombreada, que é uma área de transição entre o exterior e o interior tão necessária às regiões de clima quente. Esta possui dimensões variadas e cria um expressivo efeito de luz e sombra, através da proteção de cobogós de concreto, deixando esta área semitransparente e com bastante ventilação. Esta trama dá uma continuidade aos sólidos das áreas expositivas, como se os sólidos se fragmentassem até alcançar a área externa / praça sombreada por pérgulas. Nestes espaços a diferença entre o exterior e o interior permanece ligeiramente difusa.

Após estes espaços semiabertos, encontram-se as áreas de estar, praça, lazer, pátios, terraços, anfiteatros protegidos por pérgulas, que se alternam com áreas abertas e outras que possuem planos de madeira que podem oferecer mais privacidade e sombra conforme os usos, tais como, aulas, oficinas, etc.

São áreas de múltiplo uso, que deixam fluir o vento e o espaço arquitetônico sem uma rígida delimitação entre o terreno e a construção. A ideia é que todo o conjunto se transforme num oásis de luz, sombra, acolhimento, encontro, conhecimento e fruição.

A vocação ecológica do edifício se percebe no sistema construtivo. A rigorosa limitação dos materiais é apropriada para os espaços expositivos e sua identificação com a paisagem local. A construção se apropria do agigantamento da escala através da apropriação total do terreno longilíneo. O paisagismo  foi pensado para complementar a ideia através do plantio de espécies locais de grande porte, que permitem sombras desejáveis.

“Linhas retas, superfícies planas e blocos sólidos foram usados ​​como elementos significativos e definidores da nova paisagem”, comenta a arquiteta. “O espaço é recriado e a percepção é alterada pela busca de espaços de transição, escalas diferentes, áreas abertas, lacunas e volumes.”

A entrada principal está situada em uma extremidade do prédio, abrigada sob uma pérgula feita de vigas de aço e postes redondos de madeira. No interior, uma área de recepção com paredes cobertas de imagens da cana-de-açúcar, matéria-prima da qual a cachaça, é feita, marca o início da rota por meio de salas dedicadas à história do espírito e produção da cachaça, sua distribuição e consumo.

Um dos ambientes exibe uma variedade de garrafas de cachaça dispostas em prateleiras de vidro contra paredes espelhadas, com um teto espelhado dando a impressão de que o espaço continua além de sua altura real. Outra entrada é marcada por um pátio em uma das fachadas longas. Ele fornece acesso direto a um restaurante e a um corredor ladeado pela parede curva de blocos de treliças que leva às áreas de loja e administração.


Fotos: Júnia Mortimer

DESTAQUES

Ouça nossas playlist em

LEIA MAIS

Te quero muito, verde

Paisagismo assinado por Flávia D´Urso para casa na Pampulha, em BH, apresenta detalhes meticulosos que enriquecem a arquitetura da casa

Terra fértil

Exposição de Nydia Negromonte, no Centro Cultural Unimed-BH Minas revela a curiosidade e a investigação do mundo feita pela artista

Bastidores

Na CASACOR Minas, uma das primeiras empresas a entrar em ação é a Detronic, responsável pela demolição controlada da alvenaria

plugins premium WordPress